Holograma
Aquele momento era para ser nosso também
Por algum motivo, você desapareceu dele
E não nos falamos mais.
Ainda assim, você reaparecia às vezes
Nas telas frias da modernidade.
Você era o único que conseguia com algum sucesso
Atravessar as florestas da minha mente
Iluminando seu solo.
Hoje, as nuvens deixam tudo cinzento
As árvores cantam silenciosas
Enquanto escondem seu âmbar escorrendo
De seus troncos ocos.
Isso até poderia sobressair
Como um dos quadros de John Martin
Mas só consigo enxergar hologramas.
Acho que o vento tem me feito
Perceber os espelhos à minha volta
E como atuei para construi-los
E eu não quero mais vê-los.
Todos falando alto em meus ouvidos
E eu buscando tesouros perdidos
Carregando seus crucifixos
Enquanto a lama engolia meus pés
E você subia no trem para qualquer lugar
Eu tentei gritar,
Juro que tentei,
Mas as cruzes pesaram meu peito
Fiquei mudo e você partiu.
Agora, sentado à beira da fogueira
Numa utópica floresta negra, cinzenta
Lanço fumaça ao céu
Na esperança que você um dia veja
E consiga me encontrar
Nestes vales perdidos.

Starry night over the Rhone, de Vincent Willem van Gogh. Óleo sobre tela. 1888.