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Mensagem ao menino

Meu menino, venha

Pois há briga no andar superior,

Deixe-os lá, em fogo,

E venha caminhar.

Ignore a gritaria,

A intemperança do síndico,

E siga rumo à praça.

Pegue teu chapéu,

Tua bota e teu Manifesto.

Aprume teus irmãos,

Beije tua mãe

E chame teu amor.

Meu jovem, vá!

Os tempos se fecham,

As nuvens se formam

E a tal briga,

Que no fundo te aflinge,

Ainda há de continuar.

Meu caro amigo,

Arrume-te!

Já leste os mandamentos,

Agora os repasse,

Letra a letra,

Palavra a palavra,

Da bíblia atéia.

Os surdos,

Esses são de difícil acesso,

Mas tente a Libras

E alerte os moradores debaixo

O tombo dos de cima.

Pois que perceba bem,

No fundo,

Tudo é uma luta

Quer de classe

Quer de gênero e raça

Quer de liberdade e indivíduo.

Mas não pense que será fácil

É que os trogloditas estão à solta

À vontade, em casa

Mandar-te-ão ao calabouço

A calar boca

E os insultos, serão constantes.

Serás apenas um comunista

Ou, quiçá, um sonhador

Talvez um doutrinador,

Ou um mero hipócrita.

Veja, a estrutura é perversa

Há quem more abaixo

Há quem more acima

E hás tu, meu jovem,

O pensador.

Aliás, veja bem,

Talvez o melhor

Realmente seja

Afastares-te dos conflitos acima,

Juntar teu amor verdadeiro

E partir ao infinito,

Voar, ao vento!

Largue esta tralha

Largue a luta

Largue a fala

E vá, à liberdade,

Vivenciar teus sonhos.

Mas não te esqueça,

Jamais!

De levar contigo

O Manifesto mordaz!

Sol da manhã - Edward Hopper. 1952.

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