O menino Mucambo
Foi inspirado, Mucambo
Pelos que viviam nos sonhos
Atroz, solo americano
De fim trágico, tamanho.
Viu-se de repente
vestido em guerrilha
Contra estrelas cadentes
Que aparecem pelas trilhas.
Era o menino que via o mundo
Pelos olhos de um defunto.
Tempo foi-se passando
Cresceu e se embrenhou
E na mente sonhando
Se perdeu e se calou.
Mas cada lágrima vil
Doía, peito ardente
E, retornando ao Brasil,
Ficou não mais contente
Fogo, morte, ódio demente.
E do alto da serra
Os planos fabulosos
Cuja vida se encerra
Na voz dos populosos.
Tudo por gordos famintos
Que devoram magros frágeis,
Que liberam amianto,
Tornam rios inaufragáveis.
E o menino guardando rancor
E o menino com tanta dor.
Mas o jovem sensato
Decidiu não esperar
Pelos gigantes ingratos
Quisera acabar
Guerra, fome, caos e o mar
Sobre os céus passou a morar
Naquele dia cinzento
A dor sobressaiu
De tanto triste lamento
Que das ruas se ouviu.
Seus inimigos malandros
O indignificaram
Mas ao jovem Mucambo
Ainda homenagens prestam
Era um menino tão sorridente
Era o menino quebra correntes.

- A liberdade guiando o povo. Eugène Delacroix. Tinta a óleo.